Cada sociedade cria sua identidade acerca da natureza, sendo "um dos pilares através dos quais os homens erguem as suas relações sociais (Gonçalves, 1990) . A concepção de que ela é utilitária e desassociada do homem, pelo menos nos últimos 500 anos da história ocidental, foi fundamental para o desenvolvimento capitalista e a atual crise ambiental.
Com o início da Idade Moderna, a partir do século XV, a visão sacralizada da natureza criada pelas sociedades anteriores deu lugar ao antropocentrismo. Desde então, vários acontecimentos foram significativos para o surgimento do sistema capitalista, tal qual o conhecemos hoje, como o Renascimento, o Mercantilismo e a Reforma Protestante. Em todos eles, a natureza era tida como objeto para propiciar maior qualidade de vida antrópica e subjugada pelo homem (tradição judaico-cristã).
Com a Revolução Industrial, iniciada no fim do século XVIII, essa concepção utilitária firmou-se ainda mais com o capitalismo. Ora, se o capitalismo não existe sem acumulo de capital, da mesma forma a indústria não produz sem matéria-prima (recursos naturais). Dentro dessa dimensão diacrônica, o meio natural era visto como base para o desenvolvimento capitalista e fonte inesgotável a favor do progresso da humanidade.
Esta visão perdurou em toda a Idade Moderna e ainda se mantém na atual Pós-Modernidade. Diante disso, que modelo econômico deve ser seguido para alcançar uma sociedade sustentável? Se alguém pensar em socialismo, Sofiatti (Loureiro, Layargues, Castro, 2008) pondera e lembra-nos que “por mais que se opusessem, um ponto comum os unia (capitalismo e socialismo): sua relação com a natureza não-humana caracterizava-se pelo utilitarismo, pela instrumentalização, pela exploração ilimitada”.
Mais do que um novo sistema econômico, é urgente pensar outras bases produtivas e estilo de vida da sociedade, em que a natureza deixe de ser vista como uma mera fonte de recursos.
GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O conceito de natureza não é natural. In: ______. Os (des) caminhos do meio ambiente. São Paulo : Contexto, 1990. p. 23-60.
LOUREIRO, F.; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2008, 23-68.
Foto: Vista do Porto de Natal em 1999 / Ericka Liz
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