sábado, 26 de junho de 2010

"No mundo ocidental, a visão de que a natureza era uma fonte de recursos foi fundamental no desenvolvimento capitalista"

Cada sociedade cria sua identidade acerca da natureza, sendo "um dos pilares através dos quais os homens erguem as suas relações sociais (Gonçalves, 1990) . A concepção de que ela é utilitária e desassociada do homem, pelo menos nos últimos 500 anos da história ocidental, foi fundamental para o desenvolvimento capitalista e a atual crise ambiental.

Com o início da Idade Moderna, a partir do século XV, a visão sacralizada da natureza criada pelas sociedades anteriores deu lugar ao antropocentrismo. Desde então, vários acontecimentos foram significativos para o surgimento do sistema capitalista, tal qual o conhecemos hoje, como o Renascimento, o Mercantilismo e a Reforma Protestante. Em todos eles, a natureza era tida como objeto para propiciar maior qualidade de vida antrópica e subjugada pelo homem (tradição judaico-cristã).

Com a Revolução Industrial, iniciada no fim do século XVIII, essa concepção utilitária firmou-se ainda mais com o capitalismo. Ora, se o capitalismo não existe sem acumulo de capital, da mesma forma a indústria não produz sem matéria-prima (recursos naturais). Dentro dessa dimensão diacrônica, o meio natural era visto como base para o desenvolvimento capitalista e fonte inesgotável a favor do progresso da humanidade.

Esta visão perdurou em toda a Idade Moderna e ainda se mantém na atual Pós-Modernidade. Diante disso, que modelo econômico deve ser seguido para alcançar uma sociedade sustentável? Se alguém pensar em socialismo, Sofiatti (Loureiro, Layargues, Castro, 2008) pondera e lembra-nos que “por mais que se opusessem, um ponto comum os unia (capitalismo e socialismo): sua relação com a natureza não-humana caracterizava-se pelo utilitarismo, pela instrumentalização, pela exploração ilimitada”.

Mais do que um novo sistema econômico, é urgente pensar outras bases produtivas e estilo de vida da sociedade, em que a natureza deixe de ser vista como uma mera fonte de recursos.

GONÇALVES, Carlos Walter Porto. O conceito de natureza não é natural. In: ______. Os (des) caminhos do meio ambiente. São Paulo : Contexto, 1990. p. 23-60.
LOUREIRO, F.; LAYARGUES, P.; CASTRO, R. (Orgs.) Educação ambiental: repensando o espaço da cidadania. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2008, 23-68.


Foto: Vista do Porto de Natal em 1999 / Ericka Liz

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