domingo, 5 de setembro de 2010

Populações Tradicionais são as mais modernas

Segundo artigo do Ibama[1], “as populações tradicionais são uma antecipação da sociedade do século XXI, pois se o homem no próximo século não se tornar um conservacionista, colocará em risco a sua própria sobrevivência”.

Populações tradicionais, comunidades tradicionais, povos primitivos. São diversos os termos para nomear pequenos produtores constituídos no período colonial, que se baseiam principalmente pelo trabalho familiar de subsistência, utilização de tecnologias de baixo impacto ambiental (extrativismo, pesca, lavoura de pequena escala, etc.), elaboração de uso e de manejo dos recursos naturais e transferência desse conhecimento de geração em geração via oral (DIEGUES, 1996)[2].

A relação de dependência com as áreas naturais, o conhecimento aprofundado da natureza e a utilização sustentável dos recursos naturais fazem das comunidades tradicionais essenciais para a preservação da biodiversidade - em muitos casos, até do aumento da diversidade genética.

Nada de novo para aqueles que nasceram em pequenas cidades do interior brasileiro e crescerem na convivência de pescadores, índios, seringueiros, roceiros, ribeirinhos, quilombolas e tantos outros grupos sociais que fazem parte do nosso patrimônio cultural.

Entretanto, nas últimas duas décadas, a velocidade do crescimento econômico do país – em boa parte dentro do modelo neoliberal – nos levou a morar em cidades cada vez maiores. E os ditos povos tradicionais passaram a se distanciar do nosso convívio. E aquilo que não vejo, esqueço ou tenho apenas como uma lembrança.

Agora é tempo de refletir sobre esse modo de vida e garantir a esses grupos o direito de permanecer em seus territórios, onde seus ancestrais se fixaram há mais de um século.

Desde o início do século XX, a legislação brasileira protege, de alguma forma, as populações tradicionais. O desejo de um rápido progresso econômico, contudo, em alguns instantes, tem falado mais alto do que os direitos dessas comunidades.

Por outro lado, Dieques (1996), lembra-nos que “há também a necessidade de se resguardar de uma visão simplista do selvagem ecologicamente nobre (Redford, 1990). Nem todos os moradores são ‘conservacionistas natos’, mas entre eles há populações tradicionais que armazenaram vasto conhecimento empírico do funcionamento do mundo natural em que vivem”.

Da mesma forma que no Renascimento se voltou o olhar para a tradição greco-romana, precisamos olhar com mais atenção ao modo tradicional, porém contemporâneo, das comunidades tradicionais e construir uma sociedade verdadeiramente sustentável.

[1] IBAMA. http://www.ibama.gov.br/resex/pop.htm. Acessado em 04/09/2010.
[2] DIEGUES, A.C.S. O Mito Moderno da Natureza Intocada. São Paulo, Hucitec, 1996.
Foto: Pescador no Açude de Gargalheiras - Acari (RN) / Ericka Liz

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